quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

# Somos Todos Macabeus

     Nesta semana começamos a acender nossas velas de Chanuká. Confesso, que a parte milagrosa nunca me interessou muito. Prefiro a história aos milagres. Pois bem, Chanuká sempre mexe comigo de uma forma diferente. Ano após ano, reinvento os motivos de Chanuká. Para mim, Chanuká é a celebração do basta, de que é preciso muitas vezes dizer não, eu não aceito, eu não quero.  
    Infelizmente esse ano, meu Chanuká se tornou quase um luto, impossível ser indiferente ao atentado dentro de uma escola no Paquistão, mais de cem crianças mortas. 
     As crianças são as chamas de nossas velas. Nessas horas me imagino no lugar desse pai que acabou de deixar seu filho na escola, deu-lhe um beijo, entregou-o à professora, virou de costas e foi trabalhar. Ele não sabia, mas tinha beijado seu filho pela última vez.
     Que o Chanuká desse ano seja o basta dessa violência covarde que é o terrorismo. Que as crianças possam estudar em paz e pela paz. 
Chanuká Sameach!

terça-feira, 29 de julho de 2014

O Estado de Israel, um país legítimo


Israel é um país recente, fruto de um movimento moderno, chamado Sionismo. O sionismo nasce com Theodor Herzl, com o lançamento do Livro “O Estado Judeu”, porém, a aspiração dos judeus a voltarem para Israel, sempre existiu.
Com a modernidade e principalmente depois da Revolução Francesa, os judeus saíram dos guetos ou do shtetl, em direção as grandes cidades europeias. Ao chegarem as grandes cidades se depararam com um mundo novo, o mundo da fábrica, e mais do que isso, se depararam com uma classe social nova, o operariado. Era preciso se integrar a sociedade .
Um grande debate se deu dentro da sociedade judaica, principalmente entre os rabinos e os judeus que queriam se jogar no mundo moderno. O iluminismo já tinha contestado vários valores e derrubado monarquias, o iluminismo espalhou o conceito de cidadania, e aquele judeu que apenas estava na França ou na Alemanha, virou um judeu francês ou um judeu alemão.
Vários judeus refletindo sobre este processo adaptaram o iluminismo e iniciaram um movimento filosófico chamado de Haskalá. A Haskalá, dizia que o judaísmo tinha que se modernizar, que o judeu tinha que ir para a universidade, que tinha que falar a língua nacional, que tinha que adotar a cidadania local e nem por isso deixaria de ser judeu.
Os judeus operários nas grandes cidades criaram o maior partido de esquerda da Europa, o BUND. E apesar de sua condição civil de cidadão, muitas vezes, os judeus eram vistos como intruso, como aquele que chegou e tirou o emprego de um suposto cidadão legítimo.
Nessa época, é verdade que alguns judeus já tinham uma vida próspera e bem burguesa, sendo algumas famílias donas de verdadeiros impérios financeiros. Porém, a grande massa judaica estava no BUND. Não tardou para que teorias conspiratórias ganhasse força na Europa, as ideias que os judeus queriam conquistar o mundo, que os judeus eram os verdadeiros agentes do capitalismo ou que os judeus espalharam o comunismo pela Europa se disseminaram. Essas teorias passaram rapidamente para uma prática violenta, conhecida como Pogron, onde lojas de judeus eram quebradas e judeus eram agredidos nas ruas. A Europa tinha sem dúvida, uma questão, a questão judaica.
O Movimento Sionista ganhou força neste momento e diversos congressos foram realizados, várias teses foram debatidas, de toda e qualquer espécie. Acho até que o mais correto seríamos chamar de sionismos. Os líderes sionistas queriam que o povo judeu tivesse um Estado, e a questão se tornava urgente, pois, a situação na Europa e na Rússia piorava bastante.
Após um longo debate, ficou decidido que o lar judaico deveria ser a Palestina. Os sionistas através de doações começaram a comprar terras na Palestina. Com a crise econômica na Europa, o aumento do antissemitismo e a I Guerra Mundial, aumentou consideravelmente a imigração judaica em direção à Palestina. Assim como aumentou o interesse árabe em vender algumas de suas terras para os novos colonos judeus. Os árabes estavam fazendo bons negócios e voltavam para suas casas felizes com o dinheiro das vendas das terras.
Com o aumento da imigração, os judeus começaram a criar cidades, como por exemplo, Tel Aviv em 1909 e instituições, como por exemplo, a Universidade Hebraica de Jerusalém em 1918, e para quem acha que o domínio daquelas terras era dos árabes, se engana, pois quem mandava na região era principalmente a Inglaterra. O que não quer dizer, que os Árabes não tivessem um projeto nacional para aquele local, pois tinham.
Nessa época, alguns conflitos entre árabes e judeus, começaram a acontecer, pois, com o crescimento da imigração judaica, os judeus foram se estabelecendo na Palestina negociando com o mandatário do local a Inglaterra.
Com o final da II Guerra Mundial, a ONU, numa tentativa de conter os conflitos iminentes entre árabes e judeus dividiu o território em 2 Estados, Um para os judeus e o outro para os árabes.
O lado árabe não aceitou a partilha, e logo começou uma guerra, vencida por Israel. Alguns Palestinos foram expulsos de suas terras e outros fugiram do conflito. Israel se estabeleceu como um Estado na região em 1948. Após essa data vários outros conflitos ocorreram na região, todos vencidos por Israel, que também aproveitou para alargar seu território.
O Estado de Israel se estabeleceu de forma legítima, fruto de um movimento político legítimo. Não reconhecê-lo é uma perda de tempo que até a OLP já desistiu de negá-lo. Agora é hora dos judeus israelenses ou na diáspora pressionarem seu governo a negociar um acordo de paz, e a não mais boicotar o estabelecimento de um Estado Palestino

Henrique Fridman é professor de História, Pós Graduado pela PUC-RJ e pela Universidade Hebraica de Jerusalém.

Sirenes, bombas e um jogo de futebol interrompido.

Sirenes, bombas e um jogo de futebol interrompido.

     Sempre quando começa um conflito entre Israel e seus vizinhos, começa também uma outra guerra, essa, apesar de injusta não faz vítimas, pelo menos a curto prazo. Uma avalanche de posts contra o Estado de Israel, que muitas vezes ultrapassa o limite tênue entre o antissionismo em direção ao antissemitismo ou, por parte dos sionistas, ao antiarabismo. São generalizações de ambos os lados e pouco importa se pessoas dedicam suas vidas estudando a História do Oriente Médio e deste conflito, pois, quando começa a guerra, todos sabem a mesma coisa, e viram especialistas no assunto, torcem, como se fosse uma simples partida de futebol, ou analisam de forma fria os números de mortos de ambos os lados.

     Infelizmente começou mais um conflito, e a pergunta do presidente da Autoridade Palestina, Mahamoud Habbas “ O que o Hamas está tentando conquistar lançando seus foguetes?” Está sendo respondida diariamente nas redes sociais. O Hamas tenta convencer você, que existe um lado certo, um lado mais fraco, um lado que vive oprimido. O Hamas considera seus mortos heróis, independente de serem crianças, jovens, adultos, velhos ou mulheres. Todos ali, estão obrigados a morrerem por Alá.

     Do lado israelense, o governo de direita de Netanyahu, também responde a pergunta de Abbas. E responde de forma dura e cruel. Para os que acham que Israel quer se expandir e conquistar Gaza, é bom lembrar que Israel saiu de Gaza em 2005. Colocou o seu exército a serviço dos palestinos e expulsou todos os judeus de Gaza. Desde então o Hamas controla a região, e uma chuva de mísseis caem diariamente sobre Israel. Primeiro eram apenas sobre as cidades do sul e agora esses mísseis já são capazes de atingir quase todo o território israelense. Para se defender Israel investe um alto valor em tecnologia, o que resultou no Iron Dome, um avançado sistema de defesa contra os mísseis do Hamas, e Israel não pode ser culpado por isso.

     Querem culpar Israel pela desproporcionalidade, garanto a vocês que se fosse proporcional o número de mísseis que Israel lança em Gaza, com o número de mísseis que o Hamas lança em Israel, Gaza não mais existiria. Israel tem todo o direito de se defender e de garantir a segurança de seus cidadãos, porém, os efeitos da guerra são cruéis e os que mais sofrem são as crianças. Infelizmente o que tenho notado, não é um lamento pelas crianças palestinas mortas e sim que morreram poucos israelenses. Do lado israelense, o som das sirenes silencia a razão e as vozes do bom senso, e um acordo de paz, fica cada vez mais distante..

    O povo palestino tem a sua própria história e tem razão em diversas de suas causas, inclusive na principal delas, o direito a um Estado soberano. Mas não tem razão em fazer de suas crianças mortas um espetáculo para o mundo, crianças são apenas crianças, crianças não são escudos, crianças, palestinas ou israelenses não nascem se odiando, mas, aprendem a odiar, uma por que ouve a sirene a cada minuto e o jogo de futebol tem que parar, pois, ela tem poucos segundos para chegar a um abrigo, a outra por que um míssil caiu bem no campo de futebol e matou todos os seus amigos, simplesmente porque o campo de futebol, onde se divertiam crianças palestinas, estava uma base do Hamas.

Henrique Fridman é professor de História